O Que é Mordomia Cristã
Mordomia – Somos despenseiros de Deus,
responsáveis a Ele pelo uso apropriado do tempo e das oportunidades, capacidades
e posses, e das bênçãos da Terra e seus recursos, que Ele colocou sob o nosso
cuidado. Reconhecemos o direito de propriedade da parte de Deus por meio de fiel
serviço a Ele e a nossos semelhantes, e devolvendo os dízimos e dando ofertas
para a proclamação de Seu evangelho e para a manutenção e o crescimento de Sua
Igreja. A mordomia é um privilégio que Deus nos concede para desenvolvimento no
amor e para vitória sobre o egoísmo e a cobiça. O mordomo se regozija nas
bênçãos que advêm aos outros como resultado de sua fidelidade. – Crenças
Fundamentais, 20.
Na Bíblia, o termo mordomo se refere a um oficial
que administra, ou mesmo controla, os negócios de uma mansão. Nenhum detalhe
escapa de seus olhos. Desde arrumar a mesa, preparar os alimentos, pagar as
contas, cuidar dos jardins ou educar as crianças; tudo ele resolve para o seu
“senhor”.
No Antigo Testamento, havia um mordomo que cuidava da casa de
José (Gên. 43:19; 44:4). Abraão também dispunha de um mordomo, assim como muitos
dos reis de Israel. No Novo Testamento, o termo descreve um bispo que é mordomo
dos negócios de Deus (Tito 1:7).
Paulo diz que os crentes são “mordomos
dos mistérios de Deus” (I Cor. 4:1; Gál. 4:2). É claro, portanto, que o conceito
cristão de mordomia inclui: tempo, talentos, posses e até a própria pessoa (Luc.
12:42; Efés. 3:2). Sob esse ponto de vista, somos bons mordomos apenas se damos
tudo o que temos e o que somos a Deus.
Entretanto, como a riqueza é
geralmente um de nossos maiores obstáculos na mordomia, Jesus falou
freqüentemente sobre nossa relação com o dinheiro. Aqui, vamos focalizar o
dinheiro no sentido mais amplo: de que nossa atitude em relação à riqueza apenas
ilustra nossa atitude em relação a tudo o que possamos ter como
“nosso”.
Não é fácil falar de dinheiro; nem para os membros da igreja,
nem para os pastores. Nosso desconforto ao tratar do assunto foi bem retratado
num cartoon da revista Leadership (Liderança). Mostra um pregador atrás do
púlpito e absolutamente ninguém sentado diante dele nos bancos da igreja. Ele
começa seu sermão com as seguintes palavras: “Conforme anunciei na semana
passada, o assunto de meu sermão hoje será: Dízimos e
ofertas.”
Além da Obrigação
Freqüentemente
confundimos diversas coisas com a verdadeira mordomia. O dar, simplesmente, não
é mordomia. Uma pessoa pode doar com motivação correta. Outros podem doar em
função de um senso de culpa, para tentar expiar seus pecados. Miquéias 6:6 e 7
contém uma condenação aos israelitas exatamente por causa dessa atitude: “Com
que me apresentarei ao Senhor e me inclinarei ante o Deus excelso? Virei perante
ele com holocaustos, com bezerros de um ano? Agradar-se-á o Senhor de milhares
de carneiros, de dez mil ribeiros de azeite?” O profeta completa dizendo que
ainda que eles doassem os próprios filhos não conseguiriam expiar o pecado que
haviam cometido para conseguir suas riquezas.
Nem é preciso dizer que a
autêntica mordomia deve ter uma motivação mais virtuosa do que a culpa. Só
representa uma bênção para a Igreja a doação que brota de um espírito livre. “De
graça recebestes, de graça dai” (Mat. 10:8).
Evidentemente que o dar por
motivo de culpa ou pelo desejo de obter recompensa não vem de um espírito livre.
Minha dádiva tem que ser voluntária. No momento que ela se torna compulsória,
deixa de ter utilidade para a obra de Deus.
Deus não nos dá em função de
culpa ou desejo de recompensa. Ao contrário, nos dá porque nos ama e tem prazer
em nos atender. Ele não tem qualquer obrigação para conosco, somente compaixão e
alegria desde que continuemos livres, por Seu amor.
As relações de amor
não são movidas a obrigações ou recompensas em nenhuma direção. A noiva que
entra na igreja e vai até o altar do seu casamento “por dever” já enterrou seu
casamento, antes de começar. Da mesma forma, o marido que entrega seu salário
para a família como uma “recompensa” pela boa conduta de todos os familiares,
jamais será apreciado por eles.
As obrigações e recompensas fazem parte
de nossos relacionamentos, sob o regime do pecado, mas não podem prover uma base
eterna para o amor entre nós. Nossa vida em conjunto deve se aproximar mais de
uma troca de dons do que do pagamento de dívidas ou recebimento de prêmios.
Somente quando deixo de ser agradecido pelo amor que recebo de minha
família tenho que ser lembrado quanto às minhas obrigações. Essa é uma das
idéias centrais dos ensinos de Jesus a respeito do reino de Deus. E era a
essência da Sua teologia da expiação. “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira
que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas
tenha a vida eterna” (João 3:16).
Por essa razão a justificação pela fé
não é apenas uma doutrina sobre Deus; é também uma doutrina sobre a realidade
como um todo. Tudo o que Deus criou, seja animado ou inanimado, encontra sua
razão de ser como parte de um ciclo de dar e partilhar que caracteriza todo o
Universo.
Histórias de Generosidade
Se há um conceito
contra o qual Jesus lutou é de que a realidade é uma mera troca de recompensas e
obrigações.
Na parábola conhecida como “do filho pródigo”, o irmão mais
velho (que claramente representava os fariseus) fica reclamando porque não
consegue entender como o pai ainda é capaz de dar mais para o caçula que
manifestara um comportamento de desperdício.
Com paciência, o pai lhe
explica que é correto ficar feliz quando um filho perdido é achado e que o fato
de ele ter voltado para casa era o maior motivo para celebrações.
Quando
Jesus permitiu à prostituta que ungisse Seus pés com perfume, os observadores
ficaram com medo de que Ele ainda fosse louvá-la por esse gesto. Como resposta,
Jesus simplesmente destacou para eles a profundidade daquela ação da mulher:
“Ela não cessa de Me agradecer”, completou.
Jesus sabia muito bem que
este mundo pecaminoso é um lugar de recompensas e obrigações. Sem isso, sem o
senso do dever, a justiça pode se tornar a mais rara das virtudes. Também não é
possível ter um Universo justo quando aqueles que merecem são punidos o tempo
todo e os que não merecem são continuamente abençoados. Ou seja, um Universo
baseado unicamente na justiça não é de todo digno de Deus nem da
humanidade.
Por exemplo, quando Jesus contou a parábola dos trabalhadores
que receberam o mesmo salário ao final do dia, quer tivessem trabalhado doze ou
só uma hora (Mat. 20:1-16), Ele foi direto ao ponto; ou seja, mesmo quando somos
tratados de acordo com o que foi prometido, ainda desejamos receber de acordo
com o que as pessoas mais próximas a nós conseguiram. O senhor fora
absolutamente justo, mas as pessoas que trabalharam o dia todo se consideraram
injustiçadas ao se compararem com a generosidade que o senhor demonstrara para
com os demais.
Esses trabalhadores, entretanto, estavam deixando de
entender o mais importante: o senhor não os estava considerando como operários.
Ele sabia que todos necessitavam de um dia de salário integral. Ele os pagou
baseado em sua própria generosidade.
Pagamento X
Dádiva
Assim como os trabalhadores, podemos estar inconformados
com nossos dons. Preferimos ser recompensados pela obra que fazemos porque
sentimos que podemos realizar muito mais desde que estejamos satisfeitos com o
que estamos ganhando.
Não queremos que o patrão nos dê um presente no
dia do pagamento da mesma forma que não desejamos que nossa obra seja um
presente. O que desejamos é estar engajados em uma transação que obrigue ambas
as partes a serem honestas.
Da mesma forma, pagamos nossos impostos ao
governo; e não os damos. Se dependêssemos dos patrões ou dos contribuintes para
dar o que eles consideram adequado, todos nós ficaríamos pobres e o governo
seria destruído.
Lamentavelmente, muitos de nós que fomos ensinados a dar
o dízimo, de acordo com a Bíblia, encaramos o dízimo como o pagamento de uma
dívida. Mas não passa de uma grosseira distorção encarar o dízimo como um
imposto divino.
De acordo com a visão bíblica, principalmente no Novo
Testamento, Deus como o Criador, possui todas as coisas (incluindo o poder) de
uma forma que jamais chegaremos a ter, mas Ele escolhe nos dar (ou confiar)
algumas coisas a nós. Não ganhamos, por nós mesmos, o que recebemos pela Criação
ou pela Redenção. Pelo contrário, é Deus quem nos dá, em confiança, aquilo que é
por direito só dEle. Tudo é dádiva.
Uma jovem rica, certa vez, me
contou uma história que pode ajudar a explicar o que estou pensando. O avô de
Margareth havia juntado uma razoável fortuna através de sua empresa. Antes de
morrer, dividiu tudo o que tinha em “pacotes” de bens a serem entregues a seus
filhos e netos, quando completassem 21 anos.
Da mesma forma que aconteceu
com os outros membros da família, quando Margareth completou 21 anos, a avó a
convidou a ir até à mansão da família. Quando ela assentou-se para receber sua
herança, a avó lhe disse: “Se seu avô pudesse ter adivinhado quem iria usar
esses bens todos para ajudar e abençoar a humanidade, só teria dado a essa
pessoa. Use este dinheiro com o mesmo espírito com que foi dado a
você.”
Dádiva e Gratidão
Creio que o mesmo acontece
conosco. Cada um de nós recebe de nosso Pai uma herança, de incalculável valor,
para ser administrada com o mesmo espírito com que nos é concedida. A única
resposta adequada a tal dádiva é demonstrar gratidão por ela e tratar o dom como
um dom.
Exatamente isso é o que não fez o pródigo com sua herança. Pelo
contrário, ele a considerou como se tivesse conseguido com seu suor e pudesse
desperdiçar como bem entendesse.
Uma pessoa agradecida sempre trata o dom
com o mesmo espírito com que esse dom lhe foi confiado. Quando focalizamos não
em nossas obrigações para dar, mas nos dons (e no Dom) que temos recebido –
dádivas preciosas amarradas com os sofrimentos do Calvário – nos entregamos a
nós mesmos com gratidão e também porque isso agrada a Deus. Damos não porque
seja uma obrigação ou porque esperamos qualquer recompensa, mas porque estamos
agradecidos pelo dom de Deus.
Esse foi o ponto principal do sermão
pregado por Paulo sobre a mordomia em II Coríntios 9:6-14. “E isto afirmo:
aquele que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia com fartura com
abundância também ceifará. Cada um contribua segundo tiver proposto no coração,
não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria.
“Deus pode fazer-vos abundar em toda graça, a fim de que, tendo sempre,
em tudo, ampla suficiência, superabundeis em toda boa obra, como está escrito:
Distribuiu, deu aos pobres, a sua justiça permanece para sempre.
“Ora,
aquele que dá semente ao que semeia e pão para alimento também suprirá e
aumentará a vossa sementeira e multiplicará os frutos da vossa justiça,
enriquecendo-vos, em tudo, para toda generosidade, a qual faz que, por nosso
intermédio, sejam tributadas graças a Deus.
“Porque o serviço desta
assistência não só supre a necessidade dos santos, mas também redunda em muitas
graças a Deus, visto como, na prova desta ministração, glorificam a Deus pela
obediência da vossa confissão quanto ao evangelho de Cristo e pela liberalidade
com que contribuís para eles e para todos, enquanto oram eles a vosso favor, com
grande afeto, em virtude da superabundante graça de Deus que há em
vós.”
E como termina Paulo esse pequeno sermão? Com as palavras: “Graças
a Deus pelo Seu dom inefável!” (II Cor. 9:15).
Se percebermos nessas palavras
o eco das intenções de nosso próprio coração voltado para Deus, então teremos
nos tornado verdadeiros mordomos.
Autor: James Londis, foi diretor
do Instituto de Estudos Contemporâneos, nos Estados Unidos.
Comunhão e Fidelidade
Naturalidade, alegria e profundo sentimento de adoração é o espírito com que toda pessoa convertida faz tudo o que o Senhor pede. Independentemente das circunstâncias ouda situação socioeconômica, três características se destacam no estilo de vida: compromisso com Deus, com o próximo e com a missão. Essa verdade deve nortear a teologia e os projetos de mordomia cristã no cumprimento de seus objetivos.
Compromisso
com Deus – Ao descrever o comportamento da igreja da Macedônia em
face da necessidade dos irmãos pobres da Judeia, a Palavra de Deus diz: “Não
somente fizeram como nós esperávamos, mas deram-se a si mesmos primeiro ao
Senhor, e depois a nós, pela vontade de Deus” (2Co 8:5). Aqui está o segredo: em
primeiro lugar, nossa entrega a Deus.
O fato de darmos habitualmente o melhor de nosso
tempo e energia para Ele na primeira hora de cada manhã, afeta nossa vida em
todos os aspectos. Quem consagra a mente e o corpo a Deus recebe diariamente
graça e misericórdia renovadas para atender às necessidades de cada dia. Isso
faz a diferença, pois a misericórdia nos dá a convicção de que somos amados, e a
graça cria o sentimento de inimizade contra o pecado.
Por meio da comunhão, os valores do Céu
são implantados no coração e exteriorizados em tudo o que fazemos. Cumprimos os
deveres diários com a “mente de Cristo” e com a visão do Espírito Santo. Assim,
nos projetamos diariamente à luz da eternidade, com clara compreensão dos
deveres para com Deus e o próximo.
Compromisso com o próximo –
“Porque, no meio de muita prova e tribulação, manifestaram abundância de
alegria, e a profunda pobreza deles superabundou em grande riqueza da sua
generosidade” (2 Co 8:2). Quantas desculpas eles poderiam ter apresentado para
não se envolverem nessa causa! Quando Deus é o primeiro, vemos as coisas na
ótica dEle, e não na do ser humano comum.
Quando cada membro de nossa igreja desenvolver e
consolidar o hábito de colocar Deus em primeiro lugar, veremos mais pessoas O
adorando em espírito e em verdade; dizimando e ofertando, não por causa de
pobreza ou necessidade, mas porque Deus é digno de honra e louvor. Veremos mais
pessoas de todos os níveis adorando a Deus e cumprindo suas obrigações para com
Ele e o próximo.
Por meio das bênçãos que Deus coloca nas mãos de
Seus filhos, Ele sustenta a igreja e os necessitados. Quando cada pessoa atentar
para isso, ninguém na igreja e na comunidade passará por problemas materiais.
Ofertas abundantes serão trazidas e os crentes da igreja local e mundial serão
atendidos, bem como os que ainda não fazem parte de nosso povo. Quando Deus é o
primeiro, independentemente das circunstâncias socioeconômicas, há muita
generosidade em nosso meio.
Compromisso com a missão –
Inevitavelmente, o compromisso com Deus e com o próximo leva ao comprometimento
com a missão. Os dízimos e as ofertas que levamos ao Senhor têm a marca da
missão. Sem ofertas, como seria possível construir e manter o templo em que nos
reunimos? Para onde levaríamos os novos conversos? Como iríamos adorar? Sem os
dízimos, como poderiam nossos líderes e
guias espirituais se dedicar exclusivamente à oração, ao estudo da Palavra e à pregação?
guias espirituais se dedicar exclusivamente à oração, ao estudo da Palavra e à pregação?
Os que andam diariamente com Deus deleitam-se em
adorá-Lo, de maneira fiel e sistemática, por meio dos dízimos e ofertas.
Infidelidade não é questão financeira, mas espiritual. Quando não priorizamos a
comunhão, nosso coração corrupto busca um substituto para ocupar o lugar de
Deus.
“O povo de Deus é chamado para uma obra que
requer dinheiro e consagração. As obrigações que sobre nós repousam nos trazem a
responsabilidade de trabalhar para Deus até o máximo de nossa capacidade” (Ellen
G. White, Conselhos Sobre Mordomia, p. 35.)
Texto de autoria de Miguel Pinheiro
Costa, diretor do Ministério de Mordomia Cristã e Saúde da Divisão Sul-Americana
Nenhum comentário:
Postar um comentário