O nobre exército de mártires foi reforçado por muitas pessoas vindas da formosa capital da África romana. A senhora Perpétua, que se convertera pouco tempo antes, foi uma delas.
Era uma senhora casada, de 22 anos de idade, de boa família, bem educada, mãe de uma criança de colo. Seu pai era pagão, amando-a ternamente, e quando a agarraram e levaram para a prisão, procurou por todos os meios fazê-la voltar para o paganismo. Um dia ela, mostrando-lhe um jarro que estava perto, disse:
– Meu pai, veja este vaso; pede porventura dar-lhe um nome diferente daquele que tem?
– Não – disse ele.
– Pois bem – disse Perpétua, – também eu não posso usar outro nome que não seja o de cristã.
A estas palavras o pai colérico, esbofeteou-a, e então retirou-se, e por alguns dias não tornou a aparecer. Durante essa ausência, ela se batizou, com mais quatro jovens, um dos quais era seu irmão, e então começou a perseguição sobre ela, pois foi lançada com seus companheiros na masmorra comum. Não havia luz, e quase se asfixiava pelo calor e pela aglomeração de gente.
Alguns dias depois, espalhou-se a notícia que os prisioneiros iam ser interrogados, e o pai de Perpétua, minado de desgosto, veio da cidade, com desejo de salvá-la. A maneira como se aproximou dela era bem diferente, e as ameaças e violências deram lugar às súplicas e rogos. Pediu-lhe que se apiedasse dos seus cabelos brancos, e pensasse na honra de seu nome, e de como ele a tinha amado acima de todos os filhos. Apelou para que ela se lembrasse de sua mãe e irmãos, de seu querido filho, que não podia viver sem ela.
– Não nos aniquile a todos! – exclamou ele.
Logo, encurvou-se, chorando amargamente, e lhe beijou as mãos com ternura, e, como suplicante, lhe disse que doravante, em vez de lhe chamar filha chamaria "senhora", porque agora ela era senhora do destino de todos eles. Mas Perpétua, sustentada por Deus, suportou a agonia com inabalável coragem, dizendo:
– Neste momento de provação, há de acontecer o que for da vontade de Deus. Fique sabendo, meu pai, que nós não podemos dispor de nós mesmos, mas que esse poder pertence a Deus.
No dia do julgamento foi conduzida ao tribunal com os outros prisioneiros, e quando chegou a sua vez de ser interrogada o pobre velho pai apareceu com a criança, e, apresentando-lhe diante dos olhos, pediu-lhe mais uma vez que tivesse compaixão deles.
Valendo-se da situação, o procurador Hidariano suspendeu a sua interrogação, e lhe disse com maneiras mais delicadas:
– Poupe os cabelos brancos de seu pai; poupe o seu filhinho; oferece um sacrifício pela prosperidade do imperador!
Porém ela respondeu: – Não oferecerei sacrifício algum.
Então o procurador lhe perguntou: – É cristã?
A estas palavras o pai rompeu em altos gritos, tanto que o procurador ordenou que ele fosse lançado ao chão e açoitado. Perpetua assistiu tudo isto com coragem, reprimindo a sua dor. Em seguida leram a sua sentença de morte e a conduziram de novo à prisão com os seus companheiros.
Quando se aproximava o dia dos jogos, mais uma vez o velho a visitou, e com rogos ainda mais veementes lhe pediu que tivesse dó da sua aflição, e consentisse em oferecer um sacrifício pela prosperidade do imperador. Mas apesar de tão grande mágoa, Perpétua não se abalou em sua firmeza, não negou a fé. Foram estas as mais duras provas que ela teve de passar, mas se acabaram, e chegou o dia do seu martírio.
Nesse dia foi conduzida para fora com o irmão e outra mulher chamada Felicidade, e as duas foram atadas em redes e lançadas a uma vaca brava. Os ferimentos de Perpétua não foram mortais, mas o povão não saciado de sangue, disseram ao algoz que aplicasse o golpe de morte.
Como que despertando de um sonho agradável, Perpétua chegou a túnica mais a si e, depois de ter dirigido com voz fraca algumas palavras de animação a seu irmão, ela mesmo guiou a espada do gladiador para o coração, e assim expirou.
Corajosa Perpétua! Nosso coração bate apressado ao ler a sua maravilhosa história; mas pela graça de Deus, veremos você coroada e feliz na presença de seu Salvador!
– Breve História do Cristianismo, A. Knight e W. Anglin.
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