Se os eventos preditos em Mateus 24 devem aplicar-se tanto à destruição do templo em 70 A.D. e aos acontecimentos que precedem o segundo advento de Cristo, por que Jesus disse especificamente, dirigindo-se aos discípulos que Lhe indagavam sobre os sinais do fim: "E m verdade vos digo que não passará esta geração sem que tudo isto aconteça" (v. 34)? Obviamente Ele sabia que a profecia dos 2300 dias deveria cumprir-se antes do Seu retorno.
Parece óbvio que se fôssemos um dos discípulos que houvesse feito a pergunta: "Dize-nos quando sucederão estas coisas, e que sinal haverá da Tua vinda e da consumação do século" (v. 3), iríamos interpretar a resposta de Jesus "esta geração" como referindo-se à geração em que estamos vivendo.
O problema apresentado nesta indagação tem preocupado muitas pessoas, e muitas soluções já foram propostas. De nossa parte, preferimos a solução sugerida por Ellen G. White em Mensagens Escolhidas, livro 1, págs. 66 e 67. Nessa passagem, Ellen White defendeu-se contra a acusação de que era falsa profetisa em vista de ter indicado há anos que a segunda vinda de Cristo estava próxima. Diz ela: "Sou eu acusada de falsidade porque o tempo tem continuado mais do que meu testemunho pareceria indicar?" Sua resposta é: "Que diremos então dos testemunhos de Cristo a Seus discípulos? Estavam eles enganados?" Ela a seguir citas as seguintes passagens: 1 Coríntios 7:29 e 30; Romanos 13:12; Apocalipse 1:3 e 22:6 e 7 nas quais os escritores apresentaram a vinda de Jesus como bastante próxima em seus dias. Embora ela não faça menção a Mateus 24:34, refere-se às passagens de Apocalipse como sendo as palavras do próprio Cristo "por meio do amado João". E como sua pergunta básica é: "Que diremos então dos testemunhos de Cristo a Seus discípulos?" não vemos problema em incluir Mateus 24:34 na mesma categoria, uma vez que apresenta a vinda de Cristo como uma ocorrência dentro "desta geração", obviamente a representada por seus ouvintes.
Em vista do fato de que após mais de 2000 anos Cristo ainda não veio, ela prossegue com sua argumentação da seguinte forma: "Os anjos de Deus em Suas mensagens aos homens, apresentam o tempo como muito breve. Assim ele me tem sido sempre apresentado... Nosso Salvador não apareceu tão depressa como esperávamos. Falhou, porém, a palavra do Senhor? Nunca! Devemos lembrar, que as promessas e ameaças de Deus são igualmente condicionais".
Desse modo, ela apresenta as promessas concernentes ao tempo do retorno de Jesus como condicionais. Isso significa que se certas condições houvessem sido preenchidas, Jesus teria vindo mais cedo, aparentemente ao tempo da geração especificada em Mateus 24:34.
Se esta explicação for aceita, e Jesus já houvesse vindo, o que teria acontecido com profecias de amplo alcance como a dos 1260 dias e a dos 2300 dias?
Deve-se notar que essas profecias não foram entendidas como referindo-se a longos períodos de tempo até muitos séculos após o nascimento de Cristo. Segundo o pesquisador Leroy Froom, o princípio do dia-ano (um dia na profecia sendo igual a um ano solar em cumprimento) não foi compreendido até cerca do nono século A.D. Portanto, ninguém teria percebido qualquer quebra da profecia caso Jesus houvesse vindo antes.
Deve-se ainda notar que tais profecias são expressas em termos tais como "dias" (Dn 8:14; Ap 12:6), "tempos" (Dn 7:25), "meses" (Ap 13: 5). Não há indicação nas próprias profecias de que qualquer escala de tempo devesse ser aplicada a "dias", "meses" ou "tempos". O Espírito Santo deu instruções para que isso fosse feito apenas após o tempo ter-se dilatado. Fosse em que tempo ocorresse o cumprimento, o Espírito Santo teria provido a escala apropriada.
Alguns têm julgado que Números 14: 34 e Ezequiel 4:6 estabelecem o princípio dia-ano como devendo aplicar-se a todas as profecias de tempo. Todavia, um estudo criterioso dessas passagens demonstra que o princípio é aplicado somente aos casos específicos e que não há qualquer indicação geral nessas passagens sugerindo que um princípio universal seja por elas estabelecido. De fato, os adventistas do sétimo dia não aplicam o princípio de forma coerente a todas as profecias relativas a tempo. Por exemplo, a extensão do milênio, declarada em Apocalipse 20:3, 5 e 7 é de "mil anos". Isso é aceito literalmente. Se o princípio do dia-ano fosse aplicado, a extensão do tempo profetizado seria de 360.000 ou 365.000 anos.
Para nós, o elemento condicional que Ellen White aplica às profecias provê a solução mais simples ao problema de Mateus 24:34 e é perfeitamente aplicável ao texto bíblico.
Autor: Wilson F. Almeida
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