sábado, 25 de agosto de 2012

O Amor Verdadeiro é Firme



Alguns tipos de punições impostas pelas leis mosaicas sempre me intrigaram. Uma delas era a morte por apedrejamento em caso de adultério. Deus me parecia bastante radical nesse caso e em outros semelhantes. Onde estaria a graça e o perdão? Não costumamos dizer que a graça já existia no Antigo Testamento?

Um dia ouvi uma explicação a esse respeito que me pareceu fazer sentido. Um filho bastardo, nascido de uma relação adúltera era privado de participar de todas as cerimônias religiosas judaicas até a sua décima geração. Então Deus não queria ser cruel com essas crianças que seriam consideradas bastardas, sem identidade. Por isso, Ele decretou uma punição severa, não para que tivesse de ser aplicada, mas para desencorajar as pessoas de cometer adultério.

Imagine se essa punição fosse aplicada ao pé da letra ainda hoje! Talvez faltassem pedras para tantos casos. Claro que ninguém vai sair por aí apedrejando os adúlteros. Mas me atrevo a perguntar: a situação está melhor hoje? Quantos problemas graves, com consequências permanentes, poderiam ser evitados se as pessoas soubessem que a punição pela quebra da aliança de um casamento seria tão extrema?

A impunidade hoje tem sido a maior causa do aumento de tantos crimes no mundo e, também, de comportamentos irresponsáveis no meio cristão.

Nem sempre entendemos os propósitos de Deus. Mas em sua severidade Ele ainda é misericordioso e cheio de amor verdadeiro por seus filhos, não querendo que nenhum se perca.

O problema é que muitos daqueles que gostam de “chamar o pecado pelo nome” que se dizem paladinos da justiça, não conhecem o amor de Deus e são rápidos em julgar e disciplinar os faltosos, sem acrescentar a graça e a misericórdia divinas. Assim passam a ideia de um Deus vingativo e irado, que odeia o pecado (verdadeiro) e também o pecador (falso).

Pessoas que erram são vistas na igreja quase como os leprosos eram vistos pelos judeus. São imundos e ninguém deve se aproximar deles. Aqueles que antes eram seus amigos agora se afastam para “não se contaminar”.

No famoso caso da mulher flagrada em adultério, Jesus não a condenou ao apedrejamento, mas certamente não aprovou seu comportamento. Com sua graça maravilhosa a perdoou e ao mesmo tempo a repreendeu firmemente: “vai e não peques mais!”
Há o outro lado da moeda: a complacência com o erro.

Relatou-me um colega de ministério, já jubilado, que algum tempo atrás um membro influente de sua igreja estava traindo sua esposa, mas o fazia de modo sutil, sem “dar bandeira”. O pastor sabia da situação, mas não queria tratar do assunto por medo de magoar um membro tão ativo e querido por toda a igreja, além de um ser bom dizimista. “Devemos tratá-lo com misericórdia”, justificava-se o pastor com alguns líderes que também conheciam o problema.

Na verdade, era um precioso irmão, mas ao tomar essa atitude, o pastor não estava de forma alguma sendo misericordioso para com ele. Estava, sim, contribuindo para a sua perdição. Não precisava apedrejá-lo, expô-lo publicamente, mas, como seu pastor, era seu dever exortá-lo com amor e alertá-lo das terríveis consequências que poderiam ocorrer por causa de seu comportamento pecaminoso.

Estamos falando de adultério, um caso considerado grave pela comunidade cristã. Mas o que dizer de casos mais “simples” que, no entanto, podem resultar em consequências tão sérias quanto uma traição? Não me lembro de um único caso em que alguém foi disciplinado na igreja por espalhar boatos falsos ou falar mal de alguém.

O amor precisa ser firme em todos os casos de comportamento inadequado. Pais precisam ser firmes com os filhos. Não precisam espancá-los por causa de seus erros, mas precisam direcioná-los no caminho certo com firmeza.

Lembro-me de uma história que ouvi a respeito de uma forma de disciplina aplicada por um pai a seu filho adolescente. O jovem costumava ouvir música com volume muito alto em seu quarto. O pai pediu algumas vezes que ele moderasse o volume do som.

Certo dia, após algumas tentativas de diálogo sem resultado, o pai resolveu agir com firmeza. Bateu à porta do quarto, mas o filho ignorou.

No dia seguinte, pela manhã, o jovem já esperava chuvas e trovoadas e um duro sermão. Mas o pai parecia ter acordado de bom humor.
– Bom dia, filho. Dormiu bem? Espero que tenha um dia feliz na sua escola.

O moço ficou sem entender aquela estranha atitude do pai. Sempre levava uma tremenda repreensão por causa de suas desobediências. O que teria acontecido?

Na hora do almoço, quando voltou da escola, o pai o recebeu com o mesmo bom humor.
– Olá, filho, como foi seu dia hoje? Tudo bem na escola?

Ainda desconfiado, o filho cumprimentou-o com um sorriso amarelo. Subiu ao seu quarto, que ficava no piso superior, e quase teve um ataque. A porta de seu quarto havia sido retirada.

– Pai, o que aconteceu com a porta do meu quarto? – gritou lá de cima.
O pai subiu as escadas calmamente e explicou ao filho:
– Ter porta em seu quarto é um privilégio, não um direito seu. Como ontem você não abriu a porta para nos atender, decidimos que por algum tempo você não terá o privilégio de sua privacidade. Mas, tudo bem, amamos você do mesmo jeito.

Não houve brigas nem discussões e o recado foi bem entendido.

Às vezes, Deus nos corrige da mesma maneira. Em sua misericórdia nos disciplina, mas o faz com amor, pois quer o nosso bem.

“Deus ... é misericordioso e compassivo, muito paciente e cheio de amor” (Jl 2:13). “Repreendo e disciplino aqueles que eu amo”
(Ap 3:19).

Amor verdadeiro e disciplina com misericórdia se completam.

Wilson Almeida

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