domingo, 15 de julho de 2012

Mais Espírito, Menos Letra!






A palavra religião pode ter um bom sentido, mas nem sempre é sinônimo de um cristianismo genuíno. Os fariseus dos tempos de Jesus sempre são citados como exemplos de religiosos legalistas. E eram mesmo!
Olhamos para eles como se fossem a escória do judaísmo. Quem sabe não fosse bem assim. Muitos deles, talvez a maioria, eram sinceros, como Saulo, antes de sua conversão ao cristianismo. Os fariseus eram zelosos, cuidavam para que os rituais definidos por Moisés na Lei fossem seguidos fielmente. Afinal, os mandamentos todos não haviam sido dados por Deus? Então eram ordenanças boas e sua obediência era requerida de todo judeu membro daquela comunidade.
Por que, então, Jesus criticou duramente os fariseus e hoje ainda fazemos o mesmo?
O apóstolo Paulo dá uma pista importante: “porque a letra mata e o espírito vivifica” (2 Cr 3:6).
Quem se apega à letra é a pessoa que se encaixa perfeitamente dentro daquilo que é chamado “espírito de religiosidade”. Torna-se fácil seguir a letra da lei, bem como usá-la para fazer julgamento. Principalmente dos outros.
Desejo ressaltar que não estou relativizando a lei de Deus. Ela é eterna, absoluta e revela o caráter de Deus. O que precisamos entender é que existe algo mais implícito por trás das palavras textuais. Paulo está falando exatamente sobre isso. Era também a partir desse mesmo ponto de vista que Jesus condenou os fariseus. Eles cumpriam tudo ao pé da letra, mas não enxergavam a expressão de amor que permeava todos os mandamentos de Deus.
O sábado, por exemplo, foi um motivo de constantes disputas dos fariseus com Jesus, acusado de não guardar o sábado. O problema é que eles o guardavam com base na letra e não no espírito do sábado. Não entendiam que Deus estabeleceu o sábado por causa do homem e não o contrário.
Só para continuar um pouco mais no tema do sábado, podemos afirmar que se ele não for ensinado como uma bênção maravilhosa de Deus para o ser humano e, sim, como uma obrigação fria e legalista, uma pessoa pode ou rejeitá-lo, ou se tornar um fariseu moderno na sua observância.
O sábado é apenas um exemplo. Há outros preceitos que são ensinados sem que o amor de Cristo seja o centro de tudo. Com isso, há o perigo de se manipular as pessoas através do medo.
Outro dia ouvi uma historinha que pode ser apenas uma ilustração, mas se encaixa bem no tema desta reflexão. Um menino de uns quatro anos teve sua atenção despertada por uma frase repetida durante as pregações da semana santa: “Jesus morreu”. Com sua mentalidade infantil, ainda pouco desenvolvida para ideias mais abstratas, chegou à sua casa e disse à mãe: “Que legal. Jesus morreu! A senhora não vai mais precisar ficar falando toda hora que Jesus fica bravo comigo quando faço alguma coisa que a senhora não gosta”.
Muitos fariseus modernos usam o chicote da letra da lei que mata a fé de muita gente, esquecendo-se do espírito da lei que vivifica.
Deus não manda um anjo ficar atrás de nós 24 horas por dia anotando num caderninho todas as nossas boas e más ações para colocá-las numa balança no dia do juízo. Claro que ninguém acredita nisso, mas quantos agem assim na prática.
Precisamos de mais cristianismo, mais amor, mais compaixão e menos religiosidade. Quando isso é praticado, os princípios são normalmente bem aceitos e os mandamentos seguidos com prazer.
Tenho ouvido uma insistente frase em nosso meio: a Igreja está se vulgarizando, precisamos voltar às nossas origens. Concordo inteiramente, desde que essas origens sejam as mesmas adotadas pela igreja apostólica de Atos, quando os membros seguiam basicamente dois mandamentos: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. O próprio Jesus declarou que toda a lei se resume nesses dois preceitos. Todas as demais ordenanças daí decorrem.
Mais cristianismo, menos religiosidade! É disso que precisamos urgentemente para ter uma Igreja curada, forte, ativa, pronta para testemunhar muito mais pelo seu amor e menos por suas doutrinas. Pregar o amor não é banalizar a graça de Deus, mas sem que a igreja sofra uma inundação dessa graça maravilhosa de Jesus, seguiremos os passos dos fariseus que não aceitaram o cristianismo. Cumpriremos tudo certinho, ao pé da letra e, no final dos tempos, Jesus poderá dizer aquela frase terrível afirmando que nunca nos conheceu. E isso vai doer. Muito!

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